quinta-feira, 7 de maio de 2015

Olá, professores do Ary

Nossas pesquisas nos levaram a um texto interessante sobre a aprendizagem contínua relacionada, principalmente, à capacitação profissional. Gostaríamos que vocês acessassem o site abaixo e lessem o texto na íntegra. Ele enfatiza a concepção social da educação; segundo o autor David Kolb,  nada se ensina e se aprende senão através de uma compreensão comum ou de um uso comum. "O conhecimento é social, não existe somente em livros, fórmulas matemáticas ou sistemas filosóficos; requer aprendizagem interativa para interpretar e elaborar estes símbolos."http://www.scielo.br/pdf/epsic/v12n2/a08v12n2 



Também encontramos críticas às mesmas ideias neste site:http://infed.org/mobi/david-a-kolb-on-experiential-learning/


Boa leitura.

A teoria da aprendizagem experiencial como alicerce de estudos sobre desenvolvimento profissional 

Alessandra Pimentel - Universidade Federal do Rio Grande do Norte


A melhoria da qualificação profissional tornou-se, desde os anos 90, tema vinculado à noção de desenvolvimento profissional, numa vertente de pensamento contrária às visões de capacitação e aperfeiçoamento, largamente difundidas nas décadas antecedentes. Preconiza-se que a formação profissional não cessa nunca; implica na contínua aquisição de conhecimentos, atitudes e competências ao longo da carreira. Pressupõe-se que o desenvolvimento profissional decorre do engajamento pleno do profissional em seu próprio processo de aprendizagem. Em decorrência, compreender mais profundamente o desenvolvimento do profissional é fundamental para a formulação de programas de formação e propostas de análise da atuação profissional. 

O conceito de desenvolvimento da profissionalidade reflete a qualificação quanto a competências, conhecimentos, sentimentos e postura ética relativos à profissão. Nessa perspectiva, a teoria da aprendizagem experiencial – formulada por David Kolb (1984)2 – atribui grande valor aos conhecimentos de caráter experiencial, cuja utilidade para engendrar desenvolvimento só existe na medida em que podem ser confrontados, comparados, ampliados, revisados, enfim, refletidos junto a conhecimentos de caráter teórico. “Portanto, há que integrar conhecimento estruturado e conhecimento experiencial para construir um percurso de desenvolvimento profissional” (Oliveira-Formosinho, 2002, p.146). 

O intuito desse artigo é, sobretudo, divulgar a aprendizagem experiencial a pesquisadores e profissionais interessados no tema do desenvolvimento profissional, salientando-se o fato de ainda serem inéditas edições em português da obra de Kolb. Conceitos fundamentais da aprendizagem experiencial.

A aprendizagem experiencial parte da seguinte premissa: todo desenvolvimento profissional prospectivo decorre da aprendizagem atual, assim como o desenvolvimento já constituído é imprescindível para o aprendizado. Aprender pela experiência não significa que qualquer vivência redunda em aprendizagem. Esta aprendizagem é, sobretudo, mental. Assim sendo, apropriar (tornar próprios) os saberes procedentes da experiência demanda processos contínuos de ação e reflexão. De acordo com a perspectiva de Kolb, o homem é um ser integrado ao meio natural e cultural, capaz de aprender a partir de sua experiência; mais precisamente, da reflexão consciente sobre a mesma. Uma pessoa aprende motivada por seus próprios propósitos, isto é, empenha-se deliberadamente na obtenção de aprendizado que lhe faça sentido. 

Nas palavras do autor, aprendizagem experiencial é: o processo por onde o conhecimento é criado através da transformação da experiência. Esta definição enfatiza... que o conhecimento é um processo de transformação, sendo continuamente criado e recriado... A aprendizagem transforma a experiência tanto no seu caráter objetivo como no subjetivo... Para compreendermos aprendizagem, é necessário compreendermos a natureza do desenvolvimento, e vice-versa. (1984, p. 38) 

Nesse sentido, a aprendizagem não se efetua apenas no plano cognitivo. Na reflexão consciente sobre as experiências, a fim de transformá-las em aprendizagens, é igualmente decisivo considerar os sentimentos, emoções e intuições (Alarcão, 2002) que compõem o funcionamento psicológico, numa estrutura holística composta de cognição, afetos, percepção e ação. A teoria kolbiana tem no postulado histórico-cultural (Vygotsky e seguidores) uma fonte de inspiração3 . Com vistas à qualificação da profissionalidade, Kolb afirma que a gênese do desenvolvimento profissional encontra-se no processo de aprendizagem, aludindo a princípios e conceitos vygotskianos, mormente os de zona de desenvolvimento proximal, mediação, internalização, generalização e descontextualização. “Aprendizagem é o processo por onde o desenvolvimento ocorre” (Kolb, 1984, p. 132). Segundo este ponto de vista, à semelhança do que enuncia a abordagem histórico-cultural, aprendizagem resulta da ação humana sobre o ambiente. Conforme o ser humano se torna capaz de atribuir significado a suas experiências, revendo-as e planejando o futuro, dialeticamente o ambiente e ele próprio se transformam mútua e reciprocamente, ambos são simbólica e concretamente metamorfoseados. A aprendizagem experiencial enfatiza a interdependência entre características internas do ser aprendente e circunstâncias externas do ambiente, entre conhecimento de origem pessoal e social. A aprendizagem é individual na medida em que toda ação educativa é uma libertação de forças, tendências e impulsos existentes no indivíduo, elementos volitivos de direção e de orientação da atividade. Em contrapartida, vida social e educação se prolongam reciprocamente. Toda educação é social, conquista de um modo de agir comum. Nada se ensina nem se aprende, senão através de uma compreensão comum ou de um uso comum. 

O conhecimento é social, “não existe somente em livros, fórmulas matemáticas ou sistemas filosóficos; requer aprendizagem interativa para interpretar e elaborar estes símbolos” (Kolb, 1984, p. 122). “O processo de aprendizagem advindo da experiência determina e atualiza o desenvolvimento potencial. Esta aprendizagem é um processo social; portanto, o curso de desenvolvimento individual é determinado pelo sistema cultural e social de conhecimento” (Kolb, 1984, p. 133). Kolb sustenta esse postulado no conceito de zona de desenvolvimento proximal de Vygotsky, interpretando-a como um princípio metafórico, representativo da multiplicidade de dispositivos culturais, dirigidos à promoção de desenvolvimento. Não se trata de um lugar específico, mas de um regime de práticas que engendram a apropriação, pelos sujeitos, de um sistema particular de regras integrantes do convívio e das exigências sociais. “Através de experiências de imitação e de comunicação com outras pessoas e de interação com o ambiente físico, as potencialidades de desenvolvimento são estimuladas e postas em prática até que internalizadas como desenvolvimento efetivo [real] independente” (Kolb, 1984, p. 133). Na visão de Kolb, a experiência é central para o desenvolvimento. Faz parte de um processo dialético e ininterrupto de aprendizagem, presente permanentemente ao longo da vida do indivíduo. As experiências de aprendizagem levam ao desenvolvimento porque se dirigem a uma meta, um propósito específico de aprendizado. 

Em termos de princípios educacionais, a conceituação kolbiana de aprendizagem e desenvolvimento pretende diferenciar-se de teorias racionalistas e outras teorias cognitivistas que tendem a dar ênfase primordial à aquisição, manipulação e uso de símbolos abstratos, e de teorias comportamentais de aprendizado que negam qualquer papel à consciência e à experiência subjetiva no processo de aprendizado. Deve-se enfatizar, no entanto, que o objetivo deste trabalho [é] sugerir, através da aprendizagem experiencial, uma perspectiva holística, integrativa, que combina experiência, percepção, cognição e comportamento. (Kolb, 1984, p. 20-21)  

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