Olá, professores do Ary
Nossas pesquisas nos levaram a um texto interessante sobre a aprendizagem contínua relacionada, principalmente, à capacitação profissional. Gostaríamos que vocês acessassem o site abaixo e lessem o texto na íntegra. Ele enfatiza a concepção social da educação; segundo o autor David Kolb, nada se ensina e se aprende senão através de uma compreensão comum
ou de um uso comum. "O conhecimento é social, não existe
somente em livros, fórmulas matemáticas ou sistemas filosóficos;
requer aprendizagem interativa para interpretar e elaborar estes
símbolos."http://www.scielo.br/pdf/epsic/v12n2/a08v12n2
Também encontramos críticas às mesmas ideias neste site:http://infed.org/mobi/david-a-kolb-on-experiential-learning/
Boa leitura.
A teoria da aprendizagem experiencial como alicerce de estudos sobre desenvolvimento profissional
Alessandra Pimentel - Universidade Federal do Rio Grande do Norte
A melhoria da qualificação profissional tornou-se, desde
os anos 90, tema vinculado à noção de desenvolvimento
profissional, numa vertente de pensamento contrária
às visões de capacitação e aperfeiçoamento, largamente
difundidas nas décadas antecedentes. Preconiza-se que a
formação profissional não cessa nunca; implica na contínua
aquisição de conhecimentos, atitudes e competências ao longo
da carreira. Pressupõe-se que o desenvolvimento profissional
decorre do engajamento pleno do profissional em seu próprio
processo de aprendizagem. Em decorrência, compreender mais
profundamente o desenvolvimento do profissional é fundamental
para a formulação de programas de formação e propostas de
análise da atuação profissional.
O conceito de desenvolvimento da profissionalidade reflete a
qualificação quanto a competências, conhecimentos, sentimentos
e postura ética relativos à profissão. Nessa perspectiva, a teoria da
aprendizagem experiencial – formulada por David Kolb (1984)2
– atribui grande valor aos conhecimentos de caráter experiencial,
cuja utilidade para engendrar desenvolvimento só existe na
medida em que podem ser confrontados, comparados, ampliados,
revisados, enfim, refletidos junto a conhecimentos de caráter
teórico. “Portanto, há que integrar conhecimento estruturado
e conhecimento experiencial para construir um percurso de
desenvolvimento profissional” (Oliveira-Formosinho, 2002,
p.146).
O intuito desse artigo é, sobretudo, divulgar a aprendizagem experiencial a pesquisadores e profissionais interessados no tema
do desenvolvimento profissional, salientando-se o fato de ainda
serem inéditas edições em português da obra de Kolb.
Conceitos fundamentais da aprendizagem
experiencial.
A aprendizagem experiencial parte da seguinte premissa:
todo desenvolvimento profissional prospectivo decorre
da aprendizagem atual, assim como o desenvolvimento já
constituído é imprescindível para o aprendizado.
Aprender pela experiência não significa que qualquer
vivência redunda em aprendizagem. Esta aprendizagem é,
sobretudo, mental. Assim sendo, apropriar (tornar próprios) os
saberes procedentes da experiência demanda processos contínuos
de ação e reflexão.
De acordo com a perspectiva de Kolb, o homem é um ser
integrado ao meio natural e cultural, capaz de aprender a partir
de sua experiência; mais precisamente, da reflexão consciente
sobre a mesma. Uma pessoa aprende motivada por seus próprios
propósitos, isto é, empenha-se deliberadamente na obtenção
de aprendizado que lhe faça sentido.
Nas palavras do autor,
aprendizagem experiencial é:
o processo por onde o conhecimento é criado através da
transformação da experiência. Esta definição enfatiza...
que o conhecimento é um processo de transformação,
sendo continuamente criado e recriado... A aprendizagem
transforma a experiência tanto no seu caráter objetivo como no
subjetivo... Para compreendermos aprendizagem, é necessário
compreendermos a natureza do desenvolvimento, e vice-versa.
(1984, p. 38)
Nesse sentido, a aprendizagem não se efetua apenas no
plano cognitivo. Na reflexão consciente sobre as experiências, a
fim de transformá-las em aprendizagens, é igualmente decisivo
considerar os sentimentos, emoções e intuições (Alarcão, 2002)
que compõem o funcionamento psicológico, numa estrutura
holística composta de cognição, afetos, percepção e ação.
A teoria kolbiana tem no postulado histórico-cultural
(Vygotsky e seguidores) uma fonte de inspiração3
. Com
vistas à qualificação da profissionalidade, Kolb afirma que
a gênese do desenvolvimento profissional encontra-se no
processo de aprendizagem, aludindo a princípios e conceitos
vygotskianos, mormente os de zona de desenvolvimento proximal,
mediação, internalização, generalização e descontextualização.
“Aprendizagem é o processo por onde o desenvolvimento ocorre”
(Kolb, 1984, p. 132). Segundo este ponto de vista, à semelhança
do que enuncia a abordagem histórico-cultural, aprendizagem
resulta da ação humana sobre o ambiente. Conforme o ser
humano se torna capaz de atribuir significado a suas experiências,
revendo-as e planejando o futuro, dialeticamente o ambiente e
ele próprio se transformam mútua e reciprocamente, ambos são
simbólica e concretamente metamorfoseados.
A aprendizagem experiencial enfatiza a interdependência
entre características internas do ser aprendente e circunstâncias
externas do ambiente, entre conhecimento de origem pessoal
e social. A aprendizagem é individual na medida em que
toda ação educativa é uma libertação de forças, tendências e
impulsos existentes no indivíduo, elementos volitivos de direção
e de orientação da atividade. Em contrapartida, vida social
e educação se prolongam reciprocamente. Toda educação é
social, conquista de um modo de agir comum. Nada se ensina
nem se aprende, senão através de uma compreensão comum
ou de um uso comum.
O conhecimento é social, “não existe
somente em livros, fórmulas matemáticas ou sistemas filosóficos;
requer aprendizagem interativa para interpretar e elaborar estes
símbolos” (Kolb, 1984, p. 122). “O processo de aprendizagem
advindo da experiência determina e atualiza o desenvolvimento
potencial. Esta aprendizagem é um processo social; portanto, o
curso de desenvolvimento individual é determinado pelo sistema
cultural e social de conhecimento” (Kolb, 1984, p. 133).
Kolb sustenta esse postulado no conceito de zona de
desenvolvimento proximal de Vygotsky, interpretando-a como
um princípio metafórico, representativo da multiplicidade de
dispositivos culturais, dirigidos à promoção de desenvolvimento.
Não se trata de um lugar específico, mas de um regime de práticas
que engendram a apropriação, pelos sujeitos, de um sistema
particular de regras integrantes do convívio e das exigências
sociais. “Através de experiências de imitação e de comunicação
com outras pessoas e de interação com o ambiente físico, as
potencialidades de desenvolvimento são estimuladas e postas
em prática até que internalizadas como desenvolvimento efetivo
[real] independente” (Kolb, 1984, p. 133).
Na visão de Kolb, a experiência é central para o
desenvolvimento. Faz parte de um processo dialético e
ininterrupto de aprendizagem, presente permanentemente ao
longo da vida do indivíduo. As experiências de aprendizagem
levam ao desenvolvimento porque se dirigem a uma meta, um
propósito específico de aprendizado.
Em termos de princípios educacionais, a conceituação
kolbiana de aprendizagem e desenvolvimento pretende
diferenciar-se
de teorias racionalistas e outras teorias cognitivistas que
tendem a dar ênfase primordial à aquisição, manipulação e
uso de símbolos abstratos, e de teorias comportamentais de
aprendizado que negam qualquer papel à consciência e à
experiência subjetiva no processo de aprendizado. Deve-se
enfatizar, no entanto, que o objetivo deste trabalho [é] sugerir,
através da aprendizagem experiencial, uma perspectiva
holística, integrativa, que combina experiência, percepção,
cognição e comportamento. (Kolb, 1984, p. 20-21)
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