Estratégias para motivar os alunos
Strategies
to motivate students
SAUL
NEVES DE JESUS*
Também a aprendizagem
e a motivação dos alunos dependem da identificação destes com o professor. No
entanto, verifica-se que muitos alunos apresentam insucesso funcional, isto é,
a sua aprendizagem ou saber não corresponde ao que seria de esperar dado o nível
de escolaridade, e muitos se encontram desmotivados relativamente às tarefas
escolares. Esta situação constitui um dos principais problemas para os
professores. Numa investigação conduzida por Lens (1994), verificou-se que a
maioria dos professores considera que mais da metade dos seus alunos se
encontram desmotivados para o estudo, sentindo que, mesmo que queiram, não
conseguem resolver este problema.
Com base nestes
resultados, não obstante deverem ser tomadas medidas que permitam restituir o
poder aos professores, nomeadamente serem definidos objetivos mínimos de
aprendizagem necessários para que os alunos possam transitar para o ano letivo
seguinte (...) parece fundamental analisar algumas estratégias que o professor
pode utilizar para se confrontar de forma mais autoconfiante e com sucesso
perante as situações de desinteresse dos seus alunos. Especificamente, existem
diversas estratégias que os professores podem utilizar para motivar os seus
alunos para as tarefas escolares (ABREU, 1996; CARRASCO e BAIGNOL, 1993; JESUS,
1996B; LENS e DECRUYENAERE, 1991):
• manifestar-se
entusiasmado pelas atividades realizadas com os alunos, constituindo um modelo
ou exemplo de motivação para eles;
• clarificar, logo no
início do ano letivo, o “porquê?” da sequencia dos conteúdos programáticos da
disciplina que leciona, levando os alunos a aperceberem-se da coerência interna
entre as matérias a aprender e a adquirirem uma perspectiva global dessas
aprendizagens;
• explicitar o “para
quê?” das matérias do programa da disciplina que leciona, em termos da sua
ligação à realidade fora da escola e da sua relevância para o futuro dos
alunos;
• alargar a
perspectiva temporal de futuro dos alunos, levando-os a valorizar certas metas
para cujo alcance a escola constitui um meio ou instrumento, contribuindo para
que eles não se limitem a uma atitude imediatista e consumista face às
alternativas facultadas pela sociedade atual;
• salientar as
vantagens que poderão advir para a vida futura dos alunos se estudarem,
comparativamente às desvantagens se não estudarem, embora atualmente haja uma
grande incerteza quanto às possibilidades de concretização dos projetos
pessoais;
• procurar saber
quais são os interesses dos alunos e o nome próprio de cada um deles;
• utilizar
recompensas exteriores ao gosto e à competência que a realização das próprias
tarefas poderiam proporcionar, indo ao encontro dos interesses dos alunos;
• deixar os alunos
participarem na escolha das tarefas escolares e projetos, sempre que possível;
• criar situações em
que os alunos tenham um papel ativo na construção do seu próprio saber,
envolvendo a escuta, a imagem, o fazer;
• aproveitar as
diferenças individuais na sala de aula, levando os alunos mais motivados, com
mais conhecimentos ou que já compreenderam as explicações do professor a
apresentarem os conteúdos aos outros alunos com mais dificuldades, contribuindo
para uma maior compreensão e retenção da matéria por parte dos primeiros e para
a modelação dos últimos;
• incentivar
diretamente a participação dos alunos menos participativos, através de
“pequenas” responsabilidades que lhes possam permitir serem bem sucedidos;
• fomentar o
desenvolvimento pessoal e social dos alunos, através de estratégias de trabalho
autônomo e de trabalho de grupo;
• utilizar metodologias
de ensino diversificadas e que tornem a explicação das matérias mais clara,
compreensível e interessante para os alunos;
• estabelecer as
relações entre as novas matérias e os conhecimentos anteriores;
• partir de situações
ou acontecimentos da atualidade ou da realidade circundante para ensinar as
matérias aos alunos;
• utilizar um ritmo
de ensino adequado às capacidades e conhecimentos anteriores dos alunos,
privilegiando a qualidade à quantidade de matérias expostas;
• criar situações de
aprendizagem significativas, contribuindo para uma retenção das aprendizagens a
médio/longo prazo;
• evitar levar os
alunos a estudar apenas na perspectiva do curto prazo porque vão ser avaliados
sobre as matérias em causa;
• diminuir o
significado ansiógeno dos testes de avaliação, contribuindo para o
potencializar das qualidades dos alunos, para um maior empenho destes noutras
tarefas escolares e uma menor ansiedade face às provas de avaliação;
• proporcionar vários
momentos de avaliação formativa aos alunos, levando-os a sentirem satisfação
por aquilo que já conseguiram aprender e motivação para aprenderem as matérias
seguintes;
• reconhecer o
progresso escolar dos alunos, comparando os seus conhecimentos atuais com os
seus conhecimentos anteriores, levando-os a perceber as melhorias ocorridas e a
acreditar na possibilidade de ainda poderem melhorar mais os seus desempenhos
se se esforçarem;
• reconhecer e
evidenciar tanto quanto possível o esforço e a capacidade dos alunos, não
salientando sobretudo os erros cometidos por estes;
• ter confiança e
otimismo nas capacidades dos alunos para a realização das tarefas escolares,
explicitando-o verbalmente;
• contribuir para que o
aluno seja bem sucedido nas tarefas escolares, aumentando a sua autoconfiança,
nível de excelência e “brio” na realização escolar;
• promover a
realização de tarefas de um nível de dificuldade intermédio aos alunos, pois as
tarefas demasiado fáceis ou demasiado difíceis não fomentam o envolvimento do
aluno, nem a percepção de competência pessoal na sua realização;
• levar os alunos a
atribuir os seus fracassos a causas instáveis (por exemplo, falta de esforço) e
não a causas estáveis (por exemplo, falta de capacidade), de forma a que
aumentem as expectativas de sucesso e o empenhamento em situações futuras;
• clarificar crenças
inadequadas sobre os resultados escolares que os alunos possuam e que possam
contribuir para um menor esforço ou empenhamento nas atividades de estudo (por
exemplo, “o professor não gosta de mim e, logo, não vou conseguir obter boa
nota”);
• ajudar os alunos a
aproveitarem o esforço dispendido nas tarefas de aprendizagem, através do
desenvolvimento de competências de estudo, pois “mais vale estudar pouco e bem
do que muito mas mal.
Professor Catedrático de Psicologia da Universidade do Algarve; Doutor em Psicologia da Educação.
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