Aprendendo a pensar - Stephen Kanitz
A maioria das aulas que tive foi
expositiva. Um professor, normalmente mal pago e por isso mal-humorado, falava
horas a fio, andando para lá e para cá. Parecia mais preocupado em lembrar a
ordem exata de suas idéias do que em observar se estávamos entendendo o assunto
ou não.
Ensinavam as capitais do mundo, o
nome dos ossos, dos elementos químicos, como calcular o ângulo de um triângulo
e muitas outras informações que nunca usei na vida. Nossa obrigação era anotar
o que o professor dizia e na prova final tínhamos de repetir o que havia sido
dito.
A prova final de uma escola
brasileira perguntava recentemente se o país ao norte do Uzbequistão era o
Cazaquistão ou o Tadjiquistão. Perguntava também o número de prótons do ferro.
E ai de quem não soubesse todos os afluentes do Amazonas. Aprendi poucas coisas
que uso até hoje. Teriam sido mais úteis aulas de culinária, nutrição e
primeiros socorros do que latim, trigonometria e teoria dos conjuntos.
Curiosamente não ensinamos nossos
jovens a pensar. Gastamos horas e horas ensinando como os outros pensam ou como
os outros solucionaram os problemas de sua época, mas não ensinamos nossos
filhos a resolver os próprios problemas.
Ensinamos como Keynes, Kaldor e
Kalecki, economistas já falecidos, acharam soluções para um mundo sem
computador nem internet. De tanto ensinar como os outros pensavam, quando
aparece um problema novo no Brasil buscamos respostas antigas criadas no
exterior. Nossos economistas implantaram no Brasil uma teoria americana de
"inflation targeting", como se os americanos fossem os grandes
especialistas em inflação, e não nós, com os quarenta anos de experiência que
temos. Deu no que está aí.
De tanto estudar o que intelectuais
estrangeiros pensam, não aprendemos a pensar. Pior, não acreditamos nos poucos
brasileiros que pensam e pesquisam a realidade brasileira nem os ouvimos.
Especialmente se eles ainda estiverem vivos. É sandice acreditar que
intelectuais já mortos, que pensaram e resolveram os problemas de sua época,
solucionarão problemas de hoje, que nem sequer imaginaram. Raramente ensinamos
os nossos filhos a resolver problemas, a não ser algumas questões de
matemática, que normalmente devem ser respondidas exatamente da forma e na
seqüência que o professor quer.
Matemática, estatística, exposição de
idéias e português obviamente são conhecimentos necessários, mas eu
classificaria essas matérias como ferramentas para a solução de problemas,
ferramentas que ajudam a pensar. Ou seja, elas são um meio, e não o objetivo do
ensino. Considerar que o aluno está formado, simplesmente por ele ter sido
capaz de repetir os feitos intelectuais das velhas gerações, é fugir da
realidade.
Num mundo em que se fala de
"mudanças constantes", em que "nada será o mesmo", em que o
volume de informações "dobra a cada dezoito meses", fica óbvio que
ensinar fatos e teorias do passado se torna inútil e até contraproducente. No
dia em que os alunos se formarem, mais de dois terços do que aprenderam estarão
obsoletos. Sempre teremos problemas novos pela frente. Como iremos enfrentá-los
depois de formados? Isso ninguém ensina.
Existem dezenas de cursos
revolucionários que ensinam a pensar, mas que poucas escolas estão utilizando.
São cursos que analisam problemas, incentivam a observação de dados originais e
a discussão de alternativas, mas são poucas as escolas ou os professores no
Brasil treinados nesse método do estudo de caso.
Talvez por isso o Brasil não resolva
seus inúmeros problemas. Talvez por isso estejamos acumulando problema após
problema sem conseguir achar uma solução.
Que bom seria se o ensino público mudasse. Acho essa ideia ideal, principalmente para os jovens menos favorecidos, pois os ajudariam a enfrentar problemas do cotidiano e a ganharem experiência profissional.
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