Pense nisso, coleguinha.
Texto de Lino de Macedo
(...)
Por que temos
de fazer escolhas diárias? Uma razão geral para isso é a nossa própria
condição de ser vivo. Somos (incluindo-se aí os vegetais e todos os outros
animais) - para continuar vivos - seres de complementaridade ou interação: uma
parte de nós, porque nos completa como todo, está sempre fora de nós (nos
outros, na natureza, nas coisas). O oxigênio de que precisamos depende, em
nosso caso, da respiração de um ar que o contenha.
Ele é um legado das
estrelas que, ao explodirem, espargiram pelo universo suas cinzas, das quais um
de seus elementos (o oxigênio) possibilita, do começo ao fim, a nossa
existência física. A vida social, só para ficarmos em um dos ensinamentos
de Marcel Mass, depende de um eterno fluxo transitivo entre o dar, o receber
e o retribuir. Do ponto de vista biológico, a gestação feminina depende, por
causalidade, de uma parte (o espermatozóide) que só se encontra no
sexo masculino. A mútua dependência ou a interdependência que nos
caracteriza (apesar de nós) não se verifica como necessária nos seres imortais. O
cristal, por exemplo, é um minério que pode sustentar – para sempre - sua
condição sólida, como um tipo de vidro que só se parte ou se transforma
em pó pela atuação de agentes externos a
ele (dentre os quais o ser humano e
todos os seus interesses).
O que isso tem
a ver com escolhas? Se uma parte de nós está fora e se queremos nos
manter como um todo, é necessário (em uma condição mínima ou máxima) que
escolhas sejam feitas (quaisquer que sejam seus modos ou motivos de
expressão). O que escolher? Por que escolher isso ou aquilo? A qualidade ou
razão de uma escolha define, por antecipação, o que será de nossa vida e
da vida do grupo a que pertencemos. Não por acaso, aprender ou poder fazer
escolhas com liberdade é um dos direitos mais requeridos pelos seres humanos.
Sofrimento, doença, morte, injustiça, ou restrição de qualquer ordem, nesse
sentido, são manifestações de um sentimento de que nossas possibilidades
de escolha tornaram-se negadas ou cerceadas. Contudo, ter ou poder escolher
é assumir riscos, é tornar-se responsável por nossas escolhas e conseqüências.
Lino de Macedo
é professor de psicologia da USP
Cecília Meireles
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Ou isto ou aquilo, Editora Nova Fronteira, 1990 - Rio de Janeiro, Brasil
Que bom seria se o homem não tivesse a necessidade de escolher! Ao longo da vida tantas escolhas temos que fazer e por quê? Na verdade que chato seria não ter escolhas, quais as experiências e as histórias que teríamos para contar aos filhos, netos, amigos e alunos. Ser robô? Quem quer? O ser humano é emoção, nosso "código 0100110101" não funciona sem a sensibilidade.....viver sem isto ou aquilo é não viver. Já dizia Eduardo e Mônica: Razão ou emoção?! Prefiro os dois - senso é tudo.
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